quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Literatura comparada: Espírito livre (Além do bem e do mal) vs. Libertinagem (Don Juan)

COMPARAÇÃO DA PEÇA DE MOLIERE, DON JUAN, E A ÓPERA DE MOZART, DON GIOVANNI, FUNDAMENTADAS NO TEXTO, O ESPÍRITO LIVRE, DA OBRA ALÉM DO BEM E DO MAL DE NIETZSCHE
A comparação da Peça Don Juan, de Molière e a ópera Don Giovanni, de Mozart permitem amplas possibilidades de análises e discussões teóricas. E dentre essas possibilidades podemos optar por uma abordagem voltada à concepção de Liberdade apresentada nas obras citadas e a defendida por Nietzsche no texto “O espírito livre” que é parte da obra “Além do bem e do mal”.
Tanto peça quanto na ópera há uma referência a personagens que existiram na sociedade nos séculos XVII e XVIII: traduzidos na figura de um libertino, um herói legendário, arquétipo do devasso e amoral. Personagens esses que em suas posturas e condutas pessoais, sociais e humanas representam uma ruptura com os padrões instituídos pela sociedade e pela Igreja (Instituição) da época. No entanto, esse rompimento não significou liberdade de consciência, mas um discurso favorável à promiscuidade e um descompromisso total com a moral vigente.
A situação histórica, isto é, a contextualização e ambientação se fazem em um momento em que o luxo, a ostentação de vestimentas, a preocupação de estar em evidência originam a uma identidade do homem que se impõe como o “homem da Corte”, isto aproxima a galanteria a uma “profissão”, e permite que as máscaras sociais se enraízem e a hipocrisia se reafirme. Assim a liberdade assume, ou melhor, adquire um sentido de comportamento moral. Desvinculando-se de suas premissas e de uma postura libertária e caracterizando-se como uma concepção desconcertante de liberdade, que se confunde com libertinagem e assume no século XVIII a finalidade de preencher uma existência vazia e inútil. Entretanto, houve uma tentativa de preservar o caráter moral da libertinagem, mas o século XVII verá surgir as primeiras alusões aos hábitos depravados. Pressionadas pela reação político-religiosa, as reivindicações da antiga acepção de libertinagem (livre pensador) foram desviadas de seu projeto inicial. Assim a libertinagem começa a fazer o jogo do poder e se transforma pouco a pouco de libertária em libertina.
No século XVI surge um grupo, também chamado de rebeldes, que desafia a ortodoxia barroca e a moral cristã. Rebeldia que coincide e se desenvolve com o clima religioso e reformista da época. O que representou mais que uma ruptura, foi uma revolução religiosa.
No século XVII o movimento de libertinagem ganhou força e visibilidade na cultura francesa com críticas ferrenhas à moral cristã que organizava e manipulava a sociedade. Nessa época, surgiram dois tipos de libertinagem: a libertinagem de costume que transgredia a moral da religião e a libertinagem de espírito que preza a independência de pensamento, discussão de temas variados desde política até ciências naturais. Alguns libertinos ou livres pensadores ganharam espaço no cenário intelectual, como Diderot e Voltaire citados por Nietzsche (ABM, 28).
Em 1665, Molière encontrou uma oportunidade para satirizar o cinismo cortesão e criou um personagem da nobreza que era um sedutor sem nenhum escrúpulo moral. Numa crescente, ele revela-se ateu, blasfemo, libertino e hipócrita. Don Juan não deixa a vida de ninguém que passe por ele como antes, sejam mulheres, sejam homens. O fidalgo engana, humilha, desafia a todos que cruzam seu caminho: empregados, pai, donzelas, camponesas, pobres, mercadores e inimigos. A luz de Nietzsche (ABM, II), a conduta de Don Juan e Don Giovanni possui características semelhantes às pessoas de espírito livre, como não se achar dono da verdade (ABM, II, 25), não ser dogmático (ABM, II, 43) e ser ateu, embora nem todos os livres pensadores fossem. Mas ele transpõe o limite do livre pensamento ao vivê-lo na prática e não mais no campo das idéias, tornando-se assim um libertino. A libertinagem não faz do libertino um filósofo, assim como o espírito livre não é necessariamente libertinagem. Enquanto liberdade é pensar e agir dentro dos limites, sem oferecer ameaça a liberdade de outra pessoa, na libertinagem a imposição pode ter como ferramenta a mentira, não respeitando o espaço do outro, se aproximando de uma comparação ao autoritarismo. Don Juan exercia o livre pensamento, mas suas atitudes tornavam essa ideia em libertinagem, já que ele sempre abusa desse comportamento em benefício próprio, não se importando com o bem dos outros. Como livre pensador ele não zelava pelo predomínio de valores aristocráticos e da crença na “origem” (ABM, II, 32). Mas quando o seu pai D. Luis Tenório demonstra irritação com as ações do filho que refletem sobre o nome da família (DJ, 98) ele age como um libertino ao rogar praga ao seu pai desejando que este morra. Não se prende a ninguém, pois toda pessoa é uma prisão (ABM, II, 41), e para um homem que ama a liberdade, não há como resignar seu coração a quatro paredes, melhor pertencer a todas as belas (DJ, 79). Apesar de nocivo e perigoso, algo pode ser verdadeiro (ABM, II, 39). Revelar do que um espírito livre pode se liberar e pode ser levado (ABM, II, 44) Na época as pessoas alegavam ser livre pensamento, mas o que faziam era libertinagem de costumes, moral ou baixa libertinagem. Para a sociedade daquela época essa aparência e comportamento eram em virtude de serem diferentes. Mas essa desculpa era um grande cinismo, desculpa para fazer bacanal, bebedeira, levar a vida inteiramente devassa. E não era qualquer nobre do interior da França que levavam essa vida, e sim os príncipes do reino que levavam uma vida de homem sem escrúpulos, sem moral sem nada, devasso total. Para sua proteção, Moliere sai de Paris e vai ao interior da França com uma companhia de teatro itinerante, sob a proteção de um nobre da Provença, mas era o mesmo nobre que promovia orgias em seu castelo que eram famosas em toda Europa. Só que depois esse mesmo protetor vai a Paris, para a corte de Luis XIV sustentando a posição de moralista e com pose de santo e assim, perseguirá Moliére, será o responsável por retirar a peça do programa. Mesmo sem moral para tal, toda a corte e toda a Europa sabiam quem era esse homem. Há uma toda uma discussão em Nietzsche como o homem de espírito livre deve ser auto-determinado, autônomo. Aparentemente ela inclui que D. Giovanni o livre pensador faz da vida dele o que quiser sem dar satisfação a ninguém, e essa é uma possibilidade de ver o livre pensamento. Desde o início estava posta essa discussão e essa dicotomia, uma dialética. A liberdade de pensar é uma coisa e libertinagem é outra. A filosofia reivindicou para si o direito da liberdade de pensamento, desde Sócrates. A filosofia defende questionar os valores a própria sociedade, mas outra coisa é você agir como um libertino que não é a mesma coisa que um livre pensador. Você não pode ser visto como a tradução do livre pensador. Durante muito tempo defendeu a idéia de que o povo precisava da religião porque senão ficaria sem controle, sem freio, necessária para enganar o povo. Essa foi uma defesa cínica daqueles que não acreditavam na religião. 30min Se por um lado defende que o povo que é ignorante e precisa de religião, é fraco, precisa da religião para se conter, sem instrução. Por outro lado o nobre, o instruído, o homem culto não precisaria da religião porque ele tem outras coisas como instrução, cultura a arte. Então isso é o que Nietzsche defende que a arte cultivaria o espírito do homem no lugar da religião, mas no caso de D. Juan ou D. Giovanni que tinha todos esses recursos nada disso serviria para freá-lo, pelo contrário, estimulou para ele se soltar cada vez mais. O efeito foi o oposto. Vocês podem encaminhar o questionamento de vocês fazem sobre D. Juan e D. Giovanni percebendo essa distância o nível que se coloca a liberdade de pensamento e questionamento e o outro sobre o personagem D. Juan vivia e fazia esse pensamento. É a mesma coisa pra vocês ou não é? Pra algumas sim outras não. Os filósofos religiosos não aceitam essa separação entre libertino e livre pensador já que ambos pensam que não há barreiras ou pudor. Tudo que é profundo ama a máscara (ABM, II, 40). Sendo assim, através do desinibido comportamento do fidalgo Don Juan em relação a homens e mulheres, De todas as suas armações, destaque pela sede incontrolável pela conquista de mulheres, em especial as donzelas. Para atraí-las, o libertino - definido assim pelo seu fiel escudeiro Leporello (DJ, 15) - utiliza todo seu carisma e uma terrível lábia, chegando a usar blasfêmias como arma de sedução e ainda envolvendo-as com a possibilidade de levá-las a viver como alguém da corte (DJ 38) e casando-se várias vezes (DJ, 15). De um cinismo ímpar, ao deparar-se com alguma donzela, casada ou não, leva sua conquista até as últimas consequências, levando-as a loucura. Quando perde seu interesse, abandona-as sem nenhum sentimento de piedade ou remorso. Dom Juan vive tão intensamente quanto morre deixando seu fiel servo em desespero, preocupado em saber quem irá pagar-lhe o salário. Quem quer que o tenha encontrado não é mais, não será mais o mesmo de antes. Qualquer pessoa, homem ou mulher, o desprezível Leporello ou altiva e violenta Ana.
Percebemos, assim, que o libertino deseja seduzir e ser admirado pelas mulheres, suas vítimas eram, preferencialmente, casadas, fiéis aos maridos ou prometidos, religiosas e bondosas.
Após a conquista, o amor é respondido com a indiferença do conquistador e a glória deste se faz a partir do espetáculo provocado pelo rompimento.

AUTORES:
Daiana O. P.
Guilherme S. B.
Julio C. B. B.
Kátia V. R.

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